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segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

DILEMAS ACERCA DO APARATO REPRESSIVO BURGUÊS

Qual deve ser a posição dos marxistas revolucionários frente as reacionárias greves policiais e das FFAAs em geral?
Acima, fotos da repressão policial a greve dos
professores do Ceará. Abaixo, cartaz do PSTU apoiando
greve dos repressores policiais e bombeiros
O ano de 2011 foi marcado por várias greves policiais. No primeiro semestre foram os bombeiros no Rio de Janeiro. No segundo, entraram em greve os policiais militares e civis maranhenses. No apagar das luzes do ano passado teve início a dos bombeiros e PMs do Ceará, que chegou ao fim no último dia 4 de janeiro, quando então que teve início a dos policiais civis do mesmo estado.
Já passou da hora do proletariado brasileiro e sua vanguarda abstraírem importantes lições deste tipo de conflito. No entanto, as organizações políticas que se dizem revolucionárias, ou seja, as que se dizem dispostas a levar a luta de classes até a tomada do poder pelas massas trabalhadoras, têm revelado também diante destas greves sua completa falência teórica e programática, adotando posições que vão do sindicalismo e do eleitoralismo oportunistas ao perigoso delírio idealista.


A REDE MUNDIAL DE INVESTIMENTOS EM “FORÇAS DESTRUTIVAS”

Tomemos por exemplo o saldo da greve de bombeiros e PMs do Ceará, que obtiveram praticamente todas suas reivindicações atendidas pelo governo Cid Gomes. Depois de pressionado pelos seus próprios "cães de guarda" o governo do PSB/PT concedeu aumento da Gratificação de Policiamento Ostensivo (GPO) aos salários dos policiais e dos bombeiros. A partir deste mês de janeiro de 2012 a GPO será de R$ 1.034,00 para todos os policiais ativos, da reserva e pensionistas, redução da jornada de trabalho para 40 h semanais e anistia de processos abertos desde primeiro de novembro de 2011. Além disto, foi anunciado o plano de modernização da polícia, através de mais viaturas, maior armamento e mais munição, além de coletes a prova de bala, significando, na prática, o fortalecimento das engrenagens repressivas do Estado burguês contra os trabalhadores. Foi assim que os repressores fardados à serviço dos exploradores conseguiram, através da greve, melhores condições de "trabalho" para dar continuidade a repressão sobre a população pobre e trabalhadora das periferias.

As conquistas “econômicas” das greves policiais reforçam seu poder de repressão contra a população trabalhadora, como foi o caso desta greve e da recente greve dos Guardas Municipais de Fortaleza, apoiada pelo PSOL e pela Intersindical. Além dos sprays de pimenta já muito conhecidos pelos professores de Fortaleza, os Guardas Municipais ganharam também um novo “brinquedinho”, uma arma de choque elétrico que pode até matar.

A primeira lição deriva das próprias contradições da economia mundial capitalista, que em última instância provocaram a greve. O capitalismo é cada vez mais parasitário e dependente da economia de guerra para alavancar os negócios, desenvolvendo dessa forma as forças mais destrutivas contra o ser humano.


Podemos ver de forma aguda essa contradição no Ceará, onde a discrepância entre gastos com o armamento e viaturas modernas e os salários baixos corresponde ao fato de que, enquanto o Estado burguês, mesmo um Estado relativamente pobre como o do Ceará, que busca gastar o mínimo com soldos (salário dos soldados) integra a rede internacional imperialista de investimentos em forças destrutivas, um departamento fundamental da economia capitalista contemporânea. Só pela implementação do sistema de vigilância contra a população na capital cearense, através de 86 câmeras, o investimento do Governo do Estado, através da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), foi da ordem de R$ 6,5 milhões. As viaturas da Ronda custam pelo menos 165 mil cada e os policiais que a utilizam recebem R$ 23 reais de gratificação mensal para dirigi-las. Trata-se da aplicação da velha lei do desenvolvimento desigual e combinado enquanto o governador conta vantagem de que "Temos hoje o que melhor existe no mundo em tecnologia. Estamos sempre procurando avançar. O Ronda conta com viaturas 4x4 equipadas com câmeras, computador de bordo, GPRS, celular, e motos off-road, que servem de apoio" os PMs que portam todo este equipamento reclamam por receberem migalhas. A greve tratou de atenuar esta contradição da forma mais reacionária possível, elevando os gastos fixos destinados aos executores da repressão aos trabalhadores e diminuindo a discrepância entre os investimentos no conjunto da instituição repressora.

Aos trabalhadores não interessa resolver esta contradição em favor do aparato repressivo, aumentando o soldo dos policiais a fim de torná-lo compatível com os gastos com o “maquinário” (como reivindicam PT, PCdoB, PSOL e PSTU, PCB, Critica Radical e TPOR), mas contra qualquer investimento no aparato repressivo. Nenhum investimento no “maquinário mortífero” nem nos pit bulls que o operam! Progressivo para a nossa classe é o fim de nossos algozes, o desmantelamento e destruição de tudo isto, a quebra da hierarquia militar, a extinção de TODO o aparato repressivo capitalista.

POLÍCIAS
DESTACAMENTO ARMADO À SERVIÇO DO ESTADO BURGUÊS!

A segunda lição é que historicamente, a polícia é o setor mais reacionário dentro da sociedade burguesa, é a instituição que tem a tarefa de reprimir mais diretamente a classe operária no seu dia a dia. São os policiais que rotineiramente reprimem e massacram da forma mais cruel e covarde a população trabalhadora nas periferias e favelas, principalmente a parcela mais explorada do proletariado que são os negros, maiores vítimas dos assassinos fardados, como mais uma vez vimos se repetir na USP. Se isto acontece a luz do dia com os estudantes negros da principal universidade do país, o que não acontece na calada da noite com os negros pobres nos bairros proletários?


Qualquer operário que participou de uma greve, qualquer estudante que participou de uma manifestação sabe muito bem, pela própria experiência, a dedicação da policia em proteger a ordem de dominação e a propriedade privada da burguesia, reprimindo com extrema violência os trabalhadores mobilizados, ou\e se infiltrando como espiões e provocadores, isso sem contar o serviço privado que vários destes policiais prestam para os grandes empresários protegendo-os particularmente através do "bico" e o papel assassino que cumprem com os famosos "esquadrões da morte" nos bairros proletários, como as milícias fluminenses.

A polícia do Estado burguês tem a tarefa de manter as condições exatas para as classes dominantes super-explorarem os operários e ao mesmo tempo, deixar intacta a "ordem" capitalista contra os trabalhadores. É uma instituição que funciona como um meio de coerção brutal contra o proletariado, como nos mostram os então revolucionários Bukharin e Preobrazhensky em 1920 no seu livro “ABC do Comunismo”:

"Entre os meios de coerção brutal, é preciso notar, em primeiro lugar, o exército, a polícia civil e militar, as prisões e os tribunais, e seus órgãos auxiliares: espiões, provocadores fura-greves, capangas, etc.... O Estado capitalista além de seu exército regular, possui ainda um corpo de vadios exercitados e tropas especialmente instruídas para a luta contra os operários. É verdade que essas instituições (a polícia, por exemplo), têm, igualmente, por fim a luta contra os ladrões e a chamada 'garantia pessoal e material dos cidadãos', mas elas são mantidas, também, para dar caça, perseguir e castigar os operários descontentes".


Sobre a questão dos espiões e provadores vimos na luta dos estudantes do Piauí "a última palavra" em infiltração policial (clique aqui para ver matéria) que, se a correlação de força permitir, devem ser identificados e repelidos do nosso meio e caso não tenhamos meios para tal, devem ser despistados.


Como nos ensinou Victor Serge em sua obra "O que todo revolucionário deve saber sobre a repressão”, escrita em 1926, a qual recomendamos a todo ativista que almeja lutar pela transformação profunda da sociedade:


"Sem uma visão clara deste problema [sobre a legalidade burguesa], o conhecimento dos métodos e procedimentos policiais não teria nenhuma utilidade prática. O fetichismo da legalidade foi e continua a ser um dos traços característicos do socialismo favorável à colaboração de classes. O qual implica a crença na possiblidade de transformar a ordem capitalista sem entrar em conflito com os seus privilegiados. Mas isto, mais do que um indício de um candor pouco compatível com a mentalidade dos políticos, é indício da corrupção dos líderes. Instalados numa sociedade que fingem combater, recomendam respeito pelas regras do jogo. A classe operária não pode respeitar a legalidade burguesa, a não ser que ignore o verdadeiro papel do Estado, o caráter enganoso da democracia; em poucas palavras, os princípios básicos da luta de classes.”

Uma demonstração atual destes tipos de políticos oportunistas que estão "instalados em uma sociedade que dizem combater" é o PSOL. Para o PSOL a PM é “Uma categoria especial de assalariados”. Segundo este partido, e “Com a falta de empregos, a carreira de policial ou bombeiro militar tornou-se atrativa para milhares de trabalhadores, especialmente os mais jovens. Muitos desses novos soldados têm formação superior e passaram por experiências de luta junto aos movimentos estudantil, popular e sindical. Mas os soldados da PM/Bombeiros não são assalariados comuns. Se de um lado, por suas condições de existência concretas, vivendo com baixos salários e morando em bairros pobres, aproximam-se dos demais segmentos da classe trabalhadora, por outro, como força especializada de repressão, são usados pelo Estado para defender os ricos, atacar as lutas sociais e aterrorizar as comunidades pobres. Em tempos normais, essa contradição é resolvida em favor dos governos e das classes dominantes. Mas em situações especiais, como essa greve, eles podem ser empurrados a unificar-se com a classe trabalhadora, e desempenhar um importante papel na luta de classes.” (site do PSOL do Ceará, 02/01/2012).

A história nos mostra as custas de muito sangue e dor que os policiais NÃO são “trabalhadores fardados”, NÃO são “um setor do funcionalismo que cuida da segurança pública”, NÃO são “filhos da classe trabalhadora obrigados a reprimir os outros trabalhadores”. Estas definições apenas confundem as vítimas da repressão. Desde o advento da propriedade privada dos meios de produção, das classes sociais e do Estado, o que corresponde a uma parte da história humana (cerca de seis mil anos atrás. O Homo sapiens surgiu há aproximadamente 40 mil anos), foi necessário que a classe proprietária possuísse "um destacamento de homens armados" para assegurar que a maioria humana de quem é roubada a propriedade não retome o que é seu por direito, afinal é esta maioria que produz todas as riquezas. Que este destacamento especial seja recrutado entre os filhos das classes exploradas e receba seu “ordenado” do Estado, assim como os funcionários públicos são contingências secundárias deste processo histórico que de modo algum influencia na ação da instituição policial. Depois de embolsar suas “conquistas da greve” todo policial volta a exercer a função para a qual foi contratado. O ativista que em meio a uma manifestação duvide disto e alimente ilusões no caráter “combativo” ou “grevista” dos agentes da repressão corre o risco de ter a cabeça rachada por um cassetete, sofrer intoxicação com gás lacrimogêneo ou levar uma bala de borracha,... no melhor dos casos.

Diariamente a polícia apresenta suas armas para a população trabalhadora, como vimos recentemente na repressão aos estudantes do Piauí que protestavam contra o aumento das passagens em Teresina (clik aqui para acessar o vídeo). Ou como vemos neste vídeo em uma das mais recentes ações repressivas da PM na USP (clik aqui para acessar o vídeo). Para o ordenamento social, ou seja, para a ordem burguesa, o que importa é que se nada mais for suficientes para enganar ou segurar o descontentamento dos explorados e oprimidos, em última instância a polícia a garanta.

A polícia existe para a defesa da ordem social assentada na dominação de classe dos exploradores do povo trabalhador, para tal tarefa estão preparados ideologicamente. São a expressão maior de que a luta de classe é inconciliável e por isto são inimigos inconciliáveis do proletariado e da revolução, por mais que os reformistas busquem conciliar-se com a polícia. Assim, qualquer reivindicação por melhorias salariais, “aumento do efetivo” melhores condições de "trabalho" e etc., para esta gendarmaria, seria o mesmo que clamar por melhores condições para reprimir os trabalhadores e aperfeiçoar o braço armado do Estado capitalista, ou seja, o seu sustentáculo.

TRABALHADOR É TRABALHADOR, POLICIAL É POLICIAL

A terceira lição é que os que defendem as greves policiais defendem, pela via do sindicalismo vulgar, o fortalecimento do Estado capitalista. E é exatamente isso que clama a direção da CSP-Conlutas, promovendo uma criminosa deseducação política entre as massas, quando afirma aos trabalhadores que "Esses lutadores (as) estão em campanha por reajuste salarial, aumento do efetivo." (Site da CSP-Conlutas, 02/01/2012).

Em seu sindicalismo reacionário, a Conlutas representa as demandas dos setores mais policialescos da classe média pelo aumento do efetivo do aparato repressivo. Não por acaso o PSTU defende a criação de mais delegacias, as “Delegacias da mulher”. Não por acaso defende a “lei Maria da penha”, ou seja, o recrudescimento jurídico da repressão estatal que descarrega nas costas dos trabalhadores homens as causas da violência no seio da família proletária. Não por acaso, o PSTU não defende de forma conseqüente o “Fora PM!” na USP, mas um “plano de segurança alternativo”, ou seja, confiam que através do Estado burguês se pode atenuar o problema da violência social. Não por acaso nos obriga a “coabitar com o inimigo” esforçando-se para que mais e mais associações e sindicatos de policiais se filiem a Conlutas.

E pior, tenta covardemente promover uma conciliação dos trabalhadores com seus torturadores: "Conclamamos os trabalhadores do Ceará a apoiarem a luta dos bombeiros e policiais militares. Chamamos a que as entidades sindicais e democráticas se manifestem, exigindo do governo o atendimento das reivindicações dos grevistas, o aumento do investimento nos serviços públicos e na valorização do funcionalismo" (idem). Logo em seguida, são possuídos por um espírito idealista tentando fazer um ridículo apelo sentimental para os mais encarniçados inimigos do proletariado: "A CSP-Conlutas representa várias categorias de trabalhadores, aqui mesmo no Ceará, que já foram reprimidos pela Policia Militar quando fizeram greve para defender suas reivindicações. Portanto, ao mesmo tempo em que apoiamos incondicionalmente a greve dos policiais militares,queremos chamar os soldados a refletirem sobre o papel que o Estado e os governos os obrigam a cumprir, de repressores de outros trabalhadores quando estes lutam por seus direitos. E que busquemos formas de mudar esta situação.Os trabalhadores e pobres precisam se unir contra a exploração e a violência que esta sociedade nos impõe".

Os morenistas esquecem dessa forma, ou fingem esquecer-se do grande ensinamento de Leon Trotsky quando afirma com exatidão que

“O fato de que a polícia foi originalmente recrutada em grande número dentre os trabalhadores social-democratas não quer dizer nada. Aqui também a consciência é determinada pela existência. O trabalhador que se torna um policial a serviço do Estado capitalista, é um policial burguês, e não um trabalhador... Todo policial sabe que, apesar de os governos poderem mudar, a polícia permanece.” (Leon Trotsky, E agora, questões vitais para o proletariado alemão, 1932).

Dessa forma, chegam no fundo do poço de seu idealismo vulgar e oportunista, tornando-se efetivamente os representantes de esquerda da burguesia, assim como fizeram com a questão da Líbia, apresentaram aos seus leitores e ouvintes os contra-revolucionários agentes da CIA como revolucionários, ou quando, recentemente, tomaram outra posição anti-marxista apoiando a greve reacionária dos bombeiros do Rio de Janeiro, ou mesmo sobre Cuba, quando substituíram o programa da revolução política proletária contra a burocracia castrista para aderir ao programa da restauração democrática imperialista sob a justificativa de que o Estado operário já teria se convertido em uma ditadura capitalista.

AS DIFERENÇAS ENTRE O EXÉRCITO E A POLÍCIA

A quarta lição baseia-se na diferença fundamental entre a polícia e o exército, diferença essencial que os reformistas teimam em querer apagar. Os ideólogos do PSTU e da Conlutas alegam que sua política tem como estratégia “ganhar os policiais para a revolução”, pois seriam fundamentais para qualquer revolução social e prostituindo a história dos verdadeiros revolucionários alegam se espelhar nos bolcheviques que constituíram soviets de soldados.

A argumentação serve a interesses mais imediatos, a busca por fazer a Conlutas crescer a todo custo, seja com quem for, para ampliar seu caixa e receber o reconhecimento de central sindical por parte do Ministério do Trabalho, ainda que desconfiemos que as associações policiais não se prestarão muito nem para esta função.

Propositadamente a Conlutas tenta confundir a Polícia com o Exército (que embora também faça parte do aparato repressivo capitalista, pode e deve ser dividido, em situações revolucionárias, sob um critério de classe, ganhando da influência e do controle hierárquico do corpo de oficiais burgueses a base oriunda do proletariado e do campesinato pobre). O simples relato da Revolução Russa feito pelos que dela participaram como Bukharin, Victor Serge, Lenin, Preobrazhensky e Trotsky desmente o conto que o PSTU conta para justificar sua posição. Vejamos a diferença entre a polícia e o Exército na Revolução Russa, ressaltada de forma detalhada por Trotsky:

“Durante todo o dia as massas populares circulavam de bairro em bairro violentamente perseguidas pela polícia, contidas e rechaçada pelas forças da cavalaria e por alguns destacamentos da infantaria. Gritavam: 'Abaixo a polícia!', e ouvia-se frequentemente um hurra aos cossacos. Era um detalhe significativo. A multidão demonstrava um ódio furioso contra a polícia. A polícia montada era recebida com vaias, pedras, pedaços de ferro. Muito distinta era a atitude dos operários com relação aos soldados... A polícia é um inimigo cruel, inconciliável, odiado. Não há nem que se pensar em ganhá-los para a causa. Não há outro remédio que açoitá-los ou matá-los. Quanto ao exército é outra coisa...” (León Trotsky, Historia da Revolução Russa, Capitulo VII, Cinco dias - 23 a 27 de fevereiro de 1917, 1930).

Na revolução russa e em todas as demais os policiais agiram como carniceiros contra-revolucionários da mesma forma enquanto, em algumas, os revolucionários, sob as circunstâncias excepcionais pré ou diretamente revolucionárias, lograram dividir o Exército entre o baixo oficialato de origem proletária e os oficiais burgueses. Esta é outra lição que jamais podemos esquecer.

FFAA
QUANTO MAIS PROFISSIONAIS E MERCENÁRIAS,
MENOS SUA BASE É RECRUTÁVEL PARA A REVOLUÇÃO

Por sua vez, é preciso perceber as mudanças mundiais na tecnologia bélica e na arte da guerra nos últimos 60 anos, com a profissionalização crescente das Forças Armadas. Em âmbito nacional, com o uso cada vez mais freqüente das FFAA (Exército, Marinha, Aeronáutica) na repressão interna (UPPs, protestos indígenas) ou de uma tropa de elite federal a elas associadas como a Força Nacional de Segurança (criada por Lula em 2004), como visto durante a greve dos policiais e bombeiros cearenses, especializando tais forças tarefas para o combate à população trabalhadora, diminui as possibilidades de fracionar as FFAA, tornando-as cada vez mais parecidas com uma polícia federal ou uma espécie de polícias militares nacionalizadas. A diferença fundamental entre o exército e a polícia era mais notável quando no primeiro existiam tropas massificadas integradas por soldados recrutas, quase sempre temporários, onde acontecia a militarização de grandes parcelas da juventude trabalhadora.

Para minimizar as contradições e riscos do serviço militar obrigatório quando é recrutada indistintamente a massa da população trabalhadora, os EUA vêm tentando consolidar, o padrão de Exército mercenário, oferecendo cidadania americana para o recrutamento de estrangeiros ou através da contratação de multinacionais terceirizadoras de tropas, reduzindo de sobremaneira os perigos de uma divisão ou pelo menos neutralização das Forças Armadas em períodos revolucionários, como ocorreu várias vezes no século XX. Todavia, esta estratégia conduz a outro perigo, ao de fracionamento inter-burguês das forças repressivas em períodos de crise extrema do regime ou em um novo período de acumulação primitiva burguesa, onde cada bando entrincheira-se com um exército particular e não mais representante de toda a classe burguesa. A estratégia atual do Pentágono corrobora com o giro nos investimentos do Estado capitalista em forças destrutivas para alavancar a economia imperialista. Através da contratação das Haliburtons e BalckWaters, estes investimentos vão parar diretamente no bolso dos sócios majoritários destas empresas, que muitas vezes ocupam altos cargos nos governos capitalistas.

Seja como for, reiteramos, a conquista dos soldados do Exército, por exemplo, só acontecerá em situações revolucionárias da luta de classes e a partir de um paciente trabalho ilegal de recrutamento. Por fim, como reivindica o Programa de Transição da IV Internacional, defendemos a “substituição do exército permanente, isto é, de quartel, por uma milícia popular em união indissolúvel com as fábricas, minas, fazendas etc.”

NENHUM APOIO ÀS GREVES POLICIAIS! PELA DESTRUIÇÃO DE TODO APARATO REPRESSIVO DO ESTADO BURGUÊS!

Outra lição é que a política em relação às greves policiais é uma antiga “prova dos nove” onde se traem todos os que querem se passar por revolucionários sem sê-lo, e invariavelmente acabam renunciando às concepções marxistas sobre o caráter de classe do Estado burguês. O apoio às greves de membros do “destacamento especial dos homens armados”, que demandam o fortalecimento do aparato repressivo prestado pela CUT, CTB, Intersindical, Conlutas, PT, PCdoB, PSOL, PSTU, PCB, Critica Radical e TPOR é uma política pró-policial e anti-operária.

O cretinismo desta gente não tem limite. O PSOL reconhece que a polícia é uma “força especializada de repressão, usada pelo Estado para defender os ricos, atacar as lutas sociais e aterrorizar as comunidades pobres” e... defende o aterrorizamento das comunidades pobres com a palavra de ordem “UPPs em todos os morros!” esgrimada pelo almofadinha policialesco Marcelo Freixo.

Tanto o PSTU quanto o PCO logo revelaram seus desvios ao cretinismo eleitoral, apresentando programas de suas candidaturas em defesa da democratização das polícias. O dirigente do PSTU Eduardo Almeida chegou a apontar como proposta “socialista” para “enfrentar a violência urbana” a unificação das polícias e democratização das mesas aos moldes da assassina e racista polícia dos EUA: “A nova polícia teria que se organizar de forma radicalmente diferente da atual. Deve desaparecer a diferença entre polícia civil e militar, que não serve de nada, e assegurar todas as liberdades sindicais e políticas a seus participantes. É preciso também que seus comandantes ou delegados sejam eleitos pela população da região onde atuam. Ao contrário dos que se escandalizem com a proposta, a eleição de delegados locais é realizada em muitos países, inclusive nos EUA. É uma forma democrática de comprometer esses comandantes com a população local.” (Opinião Socialista nº 394, 29/10 a 4/11/2009, “Como enfrentar a violência urbana?”).
Acima, o aparato repressivo capitalista utiliza jatos d'água de carros
bombeiros para dispersar protesto antigoverno em Taiz no Iêmen
Abaixo, estudantes chilenos são reprimidos com jatos d´água 

Diante da última greve dos bombeiros fluminenses, LER-QI e LBI defenderam a desmilitarização dos bombeiros. Na época já os criticamos por isto. Os bombeiros não são meros salva-vidas das praias, apagadores de incêndios ou salvadores de gatos em árvores como ingenuamente identificam alguns. São uma instituição policial repressora auxiliar às demais, que prestam serviços de disparar jatos d´água contra manifestantes, de apoiar logisticamente na invasão das favelas pelas UPPs, compõem a Força Nacional de Segurança de Dilma, além de prestar alguns servicinhos extras como todas as polícias. A CPI das milícias do Rio descobriu que são das fileiras do Corpo de Bombeiros que saem boa parte dos mercenários recrutadas para os grupos de extermínio milicianos pára-militares, também na ditadura militar estavam na linha de frente como preparadores de atentados a bomba (Rio Centro, 1981), atentados a banca de revistas, etc.

A LBI alega que “uma política revolucionária não pode se dar ao ‘luxo’ de praticar o velho ‘trade-unismo’ no seio das tropas policiais” (site da LBI, 03/01/2012) mas em seguida apresenta patéticamente algumas condições para ela “se dar ao luxo” de praticar o mesmo trade-unismo que acabou de criticar “Com relação ao Corpo de Bombeiros defendemos que ele seja desmilitarizado e seus serviços exercidos por profissionais civis, tendo garantido seu direito de greve, organização sindical, a eleição democrática da direção do órgão, inclusive para que possam lutar conseqüentemente pelas suas reivindicações, como o próprio aumento salarial.” (idem) Ora bolas, o problema não é ser militarizado, mas integrar o aparato repressivo como faz a polícia civil sem ser militarizada. Se fosse pelo menos uma vez conseqüente com o que escreve, a LBI deveria estar apoiando agora a greve dos policiais civis do Ceará por aumento salarial, como prometeu para os agentes da repressão bombeiros caso eles deixem de ser militarizados. Os bombeiros são militarizados no Brasil e não militarizados nos EUA, Japão e Austrália, e nem por isto deixam de ser uma força coadjuvante da repressão policial nestes países.


Por tudo isto defendemos contra qualquer apoio às greves policiais, incluindo as dos  bombeiros, reivindicamos a luta pela destruição de TODAS as polícias e substituição das mesmas por comitês sindicais e populares de auto-defesa e socorro mútuo da classe trabalhadora!

Assim como as greves policiais reforçam a repressão estatal, também a repressão as mesmas, como as prisões dos grevistas, reforça o poder coercitivo do Estado capitalista contra as greves dos trabalhadores e servidores públicos de verdade. Este elemento que os anarquistas da UNIPA no Ceará desprezam não é de menor importância. Por isto nos opomos aos processos contra os grevistas impetrados depois que eles protestaram contra o Governador.

Defendemos a completa destruição pelas massas trabalhadoras de todo organismo repressivo do Estado capitalista e o confisco de seu “maquinário” a serviço da luta dos trabalhadores. Defendemos que os próprios trabalhadores se organizem em comitês comunitários contra a violência das polícias oficiais ou paramilitares e do tráfico. Apoiamos a formação de oposições classistas nas associações de moradores que em sua maioria são controladas por partidos governistas e burgueses e, a partir das organizações por local de moradia e sindicais existentes na comunidade, organizem milícias operárias e comitês de auto-defesa para pôr fim à sociedade burguesa. Tarefa que só pode ser alcançada através do partido leninista do proletariado à frente, como vanguarda consciente da classe em direção ao socialismo.